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No Dia da Mulher, eu te pergunto: celebrar o quê?

Assim, eu sei que nós temos muito o que celebrar, claro. Mas eu estou triste escrevendo este texto porque, sinceramente, às vezes me pergunto muito sobre como essa data mascara a luta que existe por trás. É aquela coisa, todo mundo já se viu na situação de ganhar uma rosa no Dia da Mulher e pensar: “Lindo! Adorei! Mas o que eu queria mesmo eram direitos e oportunidades iguais, respeito, segurança, equiparação salarial e a lista continua.”

Fora esse pensamento que sempre me pega nessa data, essa semana eu vi a Lei Maria da Penha e a própria Maria sendo atacadas nas redes sociais e cara, isso me machucou. Há pessoas querendo ouvir a versão do agressor, de um homem que agrediu fisicamente e psicologicamente a esposa por seis anos, e tentou matá-la duas vezes com um tiro e eletrocutada. Esse monstro foi condenado a 25 anos e cumpriu apenas dois em regime fechado. Então, que versão, sabe? Eu, como mulher, me sinto agredida pela palavra de um ser humano que fez tudo isso, anos depois dos crimes, ainda “merecer” ser ouvida. Vocês só podem estar muito loucos, completamente descolados da realidade.

Foto: Maria da Penha (Reprodução/Folha de S. Paulo)

O Brasil bateu recorde histórico de feminicídios em 2023, segundo informações do Fórum de Segurança Pública. São quatro mortes por dia e mais de 10 mil mulheres assassinadas desde 2015, quando os números desse tipo de crime começaram a ser computados. Quando fazemos um recorte racial, a realidade é ainda mais cruel: das 18 milhões de mulheres que sofrem agressão no Brasil, 12 mi são mulheres negras, de acordo com pesquisa “Visível e invisível” encomendada em 2022 pelo Fórum de Segurança Pública.

Por isso, ver pessoas, inclusive mulheres, questionando a punição para feminicídios me revolta, me enoja e me entristece demais. O feminicídio, por definição do dicionário, é o “delito de homicídio praticado contra mulher decorrente de violência doméstica ou familiar e/ou por motivo de menosprezo ou discriminação de gênero”. O latrocínio, por sua vez, é “roubo violento, à mão armada, que co-ocorre com homicídio”. Agora você vê que curioso, cara leitora, ninguém questiona a importância ou a legalidade de um latrocínio. Só me faz pensar que a vida de uma mulher, tirada simplesmente porque ela é mulher, vale menos do que uma vida ceifada por causa de um celular.

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Foto: Ignazio Ruzzi (Reprodução/Pinterest)

Como é difícil ser mulher no Brasil! Ou melhor, no mundo, porque essa violência misógina não é uma exclusividade do nosso país, infelizmente. Há uma semana, a notícia de que uma brasileira sofreu estupro coletivo na Índia me atravessou também. É uma mistura de medo, raiva e tanta coisa que a gente sente quando lê algo assim, não é? Ao mesmo tempo, uma grande empatia e solidariedade para com a mulher que passou por coisas inimagináveis para mim.

Eu, como mulher e agora mãe de outra mulher, não quero um mundo assim. Portanto, é fundamental se informar e se deixar ser confrontada com notícias ruins. Porque só com informação (e não fake news, por favor), nós saberemos como nos mobilizar e, assim como muitas fizeram e têm feito há tantos anos, lutar para continuar conquistando os espaços e os direitos que nos pertencem, mas que teimam em nos tirar todos os dias. 

Então, hoje, neste Dia da Mulher, eu não celebro como se a gente tivesse ganhado a guerra, mas eu me apresento para a batalha como todo dia.

O artigo No Dia da Mulher, eu te pergunto: celebrar o quê? foi publicado pelo Steal The Look.

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