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Camilla Camargo fala sobre maternidade real e sem tabus em entrevista exclusiva!

Camilla Camargo possui uma carreira consolidada no teatro, com mais de 20 espetáculos no currículo, e trabalhos na TV, entre eles a novela “Em Família” (Globo) e o sitcom “#PartiuShopping” (Multishow), mãe dos pequenos Joaquim (2 anos) e Julia (4 meses), lançou na pandemia um canal no YouTube em que aborda assuntos como maternidade real.

Conhecida pela discrição mas também pela assertividade, em entrevista exclusiva, ela falou sobre a pressão que as mulheres, especialmente mães, vivem na nossa sociedade, ainda muito machista, brincou que estamos falando pouco sofre feminismo, já que segundo a própria: “enquanto as injustiças seguirem acontecendo, a batalha segue”. 

Falou também da importância da empatia e acolhimento, de cada vez mais mostrar a maternidade como ela realmente é, de se abordar o sentimento de culpa sempre presente, e muito mais! 
Revista L’Officiel: Acredita que existe um sentimento de culpa por parte das mães quando se pontua as dificuldades? E se sim, por que acredita que isso existe? 

Camilla Camargo: Existe, e muito disso existe justamente pela culpa de apontar qualquer coisa como se os outros não fossem entender que, com todas adversidades, nada paga o amor e a realização de ter um filho, no meu caso, por exemplo, que sempre sonhei ser mãe. Não é porque dividimos dificuldades, justamente pra que elas sejam normalizadas e encaradas de forma mais light, e como uma fase, que estamos insatisfeitas. Pelo contrário, nunca estive tão feliz na vida, me descobri pessoalmente como mãe, e minha vida ganhou um sentido ainda maior.

Sinto que nós mulheres temos uma cobrança de sorrir pra tudo desde os primórdios, me sinto abençoada por ter aprendido desde nova com meus pais que a sinceridade é uma dádiva, desde que com educação e respeito, e isso é maravilhoso, por outro lado, acho que desde sempre aprendemos com a sociedade a disfarçar possíveis constrangimentos…  Isso quando, por exemplo, nos sentimos invadidas por um comentário disfarçado de elogio e o instinto nos faz soltar um sorriso sem graça, que por alguns é encarado como timidez e “fofo”, mas é na verdade puro desconforto e constrangimento. Cada vez mais temos aprendido que podemos mostrar quando algo nos incomoda, e que isso inclusive é algo que ajuda outros a nossa volta e evita a reprodução de posturas abusivas que sempre foram normalizadas. 

L’Off: Existia alguma coisa que você não sabia antes de ser mãe que pesaria e agora vivencia? Na sua opinião, qual é o maior desafio na maternidade? 

Camiila: Muitas coisas!! Hoje penso muito no que estamos deixando para as próximas gerações, nos efeitos dos nossos atos, em qual mundo meus filhos poderão viver. Acho que a maternidade é um constante desafio e aprendizado. Meus maiores medos são que algo aconteça com meus filhos e de saber sempre a melhor forma de educá-los, é uma responsabilidade imensa. 

L’Off: Em breve, você volta aos trabalhos e começará a dupla jornada de mãe e profissional. É um assunto que te preocupa? Tem pensado em como será? Como está se preparando para este momento? 

Camiila: Eu tento evitar sofrer por antecipação mas claro que pensamentos de como será essa jornada dupla já surgiram, algumas vezes com um frio na barriga. De qualquer forma, tenho tentado focar no quão bom será voltar ao trabalho que amo, pras gravações, palcos… e ainda ter meus bebês (já não tão bebês rs) em casa quando chegar pra apertar muito. No começo sei que dará uma dor no coração de saber que eles me tinham quase em tempo integral e agora terão menos tempo com a mãe, mas é um processo necessário, assim como mais pra frente quando eles forem pra escola, e por aí vai. O processo de socialização, também na minha ausência, é essencial pra eles. Assim, com o tempo, eles vão poder também ter uma rotina feliz na nossa distância. 

L’Off: Cada vez mais o Feminismo (sororidade, empoderamento) tem sido abordado. Para você, qual a importância dele ser debatido? Hoje, muitas mães também estão mais abertas a falarem e dividirem as experiências reais sobre a maternidade. Como você vê esse movimento? Acredita que tem gerado mais empatia e acolhimento?   

Camiila: Eu percebo que muita gente ainda não entende o real significado de Feminismo, sabia? Por isso, acho que vale falar o que parece óbvio, e que Feminismo, entre outras coisas, representa a busca por igualdade e não colocar um gênero acima do outro. Não é mais aceitável ter mulheres recebendo menos que homens executando uma mesma função e sob mesmas condições… Não faz sentido nenhum sentido. Penso que daqui algum tempo, a maior parte da população verá a forma como tudo foi normalizado até hoje com espanto, porque de fato é surreal. Até quando algumas pessoas acharão aceitável o próximo ter desvantagens na vida porque nasceu com outro sexo, cor, etc? Não pode acontecer mais isso, e enquando seguir o absurdo, estamos falando pouco sobre, temos que falar muito mais! Enquanto injustiças não forem resolvidas, a batalha segue. 

Vejo o feminismo dentro do universo da maternidade de forma muiiito importante também, afinal, ele tem dentro de si princípios como a sororidade que diz respeito justamente aempatia com a outra e acolhimento. Uma reflexão antes da gente sair fazendo julgamentos, se colocar no lugar, e também dividir mais a realidade, faz muita diferença. Sinto que temos uma tendência de dizer o que o patriarcado acha que soa bem, e de nos censurar, quanto já nos censuramos na rua até pra amamentar? Às vezes o que precisa ser falado é exatamente o que parece desconfortável!

Eu sinto pelas gerações da nossas avós que não tinham uma ampla abordagem sobre depressão pós-parto, por exemplo, ou que muitas vezes se sentiam mal de não ver a maternidade como mar de rosas. Nós somamos umas as outras quando dividimos experiências reais, dores e delícias de ser mãe, que foi pra mim, por exemplo, a maior realização pessoal da minha vida, mas que nem por isso, eu vá dizer que é padecer no paraíso, ou mundo cor de rosa, tem muitas dificuldades, e não são poucas. Dormir mal uma semana é besteira, mas dormir meses acordando à noite e sempre em estado de alerta gera um cansaço mental, por que não falar disso abertamente? Claro que nada disso se compara ao quão incrível é ser mãe, a alegria e amor de ter seu filho nos braços, nem perto, mas faço questão de dividir também o outro lado. Não reclamando de nada porque, como falei, é ínfimo perto do resto, mas porque também é uma realidade, não existe mundo ideal, e porque são fases que fazem parte da pós-gestação de quase toda mãe, e tudo bem não se sentir sensacional todo dia, mesmo.

L’Off: Você se sente privilegiada por ter tido a oportunidade de ficar em casa nesta pandemia?  

Camiila: Sem dúvida alguma! Muita gente não teve a mesma oportunidade, infelizmente de ficar em casa e justamente por esse motivo era tão importante que, quem tivesse essa chance, fizesse sua parte (e siga fazendo), evitando dessa forma a disseminação do vírus. Não só os médicos e todos que estavam na linha de frente, mas até mesmo todo o pessoal que se expôs nessa pandemia pra garantir seu sustento diário seja fazendo delivery, ou qualquer coisa do tipo. Fico indignada quando vou a rua, por exemplo, e vejo pessoal sem máscara como se nada estivesse acontecendo… São mais de 560.000 mortes, como pode? 

L’Off: Teria alguma mensagem pra motivar as mães que querem voltar a trabalhar mas que sentem esse peso da ausência no dia a dia.  

Camiila: O que eu gostaria que me dissessem em mantra (rs): Foque no quando esse processo é importante, inclusive de fazer com que eles também se sintam confortáveis e seguros na nossa ausência. Me imagino ligando 1.500 vezes querendo notícias? Sim… rs não vou mentir, a dorzinha vai ter, principalmente no começo, é preciso focar na importância em se desenvolver a socialização também com outras pessoas, e ultrapassar um passo de cada vez. 

L’Off:  Temos falado cada vez mais sobre sustentabilidade, no mundo e na moda também, você tem ligação com o tema? O que faz pra manter uma vida mais sustentável e qual é a importância de se colocar em pauta esses assuntos visto que o meio ambiente tem nos mostrado estados de alerta? 

Camiila: Muita e acho que quem ainda não tem ligação com o tema precisa repensar com toda urgência porque o mundo está gritando por isso, precisamos entender o que causa liberação altíssimade CO2 no ambiente, como evitar o aquecimento global, reduzir a poluição ou não teremos o mundo como vemos hoje pros nossos descendentes, infelizmente! 

Condutas simples já fazem muita diferença em busca de uma rotina mais sustentável, como reciclar o lixo, evitar o consumo de plásticos, optando por embalagens de vidro e outros materiais… Faço isso há anos e gostaria de ter começado antes, sou adepta também de brechós , pois acredito num consumo mais responsável, sem precisar produzir tanta roupa a mais. 

E também é muito importante destacar, que todos nós temos que denunciar o enfraquecimento dos orgãos de fiscalização ambiental, me preocupa muito a liberação dia a dia de agrotóxicos, muitos deles verdadeiros venenos pra nossa saúde, vale muito pesquisar marcas de cosméticos que não façam crueldade com animais, não testem neles, também se interar nas marcas de roupas etc que tenham ao menos começado a desenvolver maiorpreocupação com desperdício e que tenham um modo de produção mais consciente. Li nos últimos tempos sobre uma grife, das mais conhecidas do mundo, que queima seus estoques que não são vendidos com o argumento de “manter a exclusividade” e fiquei abismada que achem isso ok num mundo com tanta desigualdade, pobreza e em pleno momento de sustentabilidade em pauta como assunto que não dá mais pra adiar!

O artigo Camilla Camargo fala sobre maternidade real e sem tabus em entrevista exclusiva! foi publicado pelo L'Officiel Brasil.

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