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Por que devemos parar de usar o termo anti-aging?

O envelhecimento de mulheres ainda é um grande tabu. Não importa sua profissão, sua contribuição para qualquer área da sociedade ou seu nível de visibilidade, todas as mulheres estão suscetíveis a receber comentários quando os primeiros fios brancos de cabelo aparecem ou quando as rugas da pele se tornam mais visíveis. Raramente, o assunto é abordado com a sensibilidade necessária, o que gera desconfortos e colabora para que o envelhecimento em si seja tratado de maneira negativa.

Em uma sociedade que normaliza a superexposição e o uso excessivo das redes sociais, envelhecer faz parte de um processo considerado imperfeito e que precisa ser evitado, e todas as questões associadas à fase mais avançada da vida passam a integrar um conjunto de assuntos que não devem ser discutidos. A pressão estética, com a glamourização da juventude e a divulgação constante de produtos cosméticos “anti-idade”, só acrescenta mais camadas para essa questão tão complexa. Dessa forma, um momento da vida que deveria ser encarado com naturalidade passa a ser evitado de todas as formas.
Em Hollywood, envelhecer não é permitido
A ideia do envelhecimento como algo negativo não surgiu de uma hora para outra; ela é o resultado da construção de uma pensamento pela mídia, empresas de cosméticos e até pela indústria do cinema, que descarta mulheres mais velhas ou atribui a elas papéis estereotipados, diferentemente dos papéis oferecidos para homens da mesma idade, que ganham o status de galã e marcam presença em produções de aventura e ação, apesar dos fios brancos e da idade “avançada”.

Em 2020, a atriz e ativista Geena Davis divulgou, em conjunto com o Instituto Geena Davis de Mulheres na Mídia, um levantamento que avaliou os 30 filmes de maior bilheteria de 2019. O estudo buscou encontrar uma produção com as seguintes características: pelo menos uma personagem mulher com 50 anos, mas com peso na trama, e se a personagem foi representada sem apelar para estereótipos de idade.

O resultado indicou que nenhum dos 30 filmes analisados tinha uma atriz com mais de 50 anos como personagem principal. Além disso, as mulheres acima dessa idade eram representadas com estereótipos, como frágeis, doentes mentais, entre outros.

Os dados servem como um panorama para analisar a tendência atual em relação à representatividade das mulheres mais velhas nos filmes, que influencia a visão da sociedade em geral sobre a existência de mulheres nessa faixa etária. 
Outro problema perceptível é que, em vários casos, mulheres mais jovens são escolhidas para interpretar personagens mais velhas, ignorando a existência de ótimas atrizes acima dos 50 anos. Esse foi o caso de filmes como A Escavação, onde Carey Mulligan, de 35 anos, interpreta uma personagem de 56 anos, e Mank, em que Tuppence Middleton, de 33 anos, interpreta a esposa de Gary Oldman, de 62 anos de idade.  

Foi dentro do universo do cinema que a discussão sobre a visão negativa do envelhecimento ganhou ainda mais força. Em 2017, a atriz britânica Helen Mirren, de 75 anos, destacou a problemática em torno do termo “anti-aging”, sendo a capa de uma revista americana famosa para destacar como esse conceito incentiva as ideias de “combater a idade” ou “lutar contra o tempo”. Durante uma entrevista em 2020, a atriz reafirmou seu posicionamento: “Eu tenho grande problema com o termo, na verdade. Você não pode evitar o envelhecimento. A meu ver, se tem duas opções na vida: você pode envelhecer ou morrer. E quero continuar a ver o que a vida me reserva”.
Após seu manifesto, em 2017, revistas de moda e beleza declararam o fim do uso do “anti-aging” em suas publicações, buscando alternativas para falar sobre essa etapa natural da vida com um olhar positivo e acolhedor. Até hoje, diferentes publicações têm se posicionado contra o termo e em relação ao assunto como um todo.
O mundo muda, e a indústria da beleza precisa acompanhar
A história da atriz e modelo ítalo-americana Isabella Rossellini é um bom exemplo de como a mudança no mercado tem influenciado o posicionamento das empresas do setor de beleza. Após ocupar o cargo de “rosto” da marca Lancôme, uma das marcas de cosméticos mais importantes do mundo, por 12 anos, a atriz e modelo foi demitida da posição. A decisão da empresa se deu pelo fato de que Isabella havia entrado na faixa dos 40 anos. “Falaram que precisavam de alguém mais jovem, que a pessoa que representava a marca era uma aspiração para as clientes, e que elas desejavam a juventude”, declarou Rossellini, que na época da demissão tinha 43 anos.

Após 22 anos, aos 65, ela foi chamada para voltar a atuar como modelo para a marca, ilustrando mudanças no mercado e na madeira de atingir o público-alvo em questão. Essas e outras ações, obviamente, não significam que as empresas do mundo da beleza assumiram a posição de “boazinhas”. O movimento de inclusão de mulheres mais velhas em propagandas de cosméticos, em papéis de filme e em outros espaços midiáticos são um indicativo de que a sociedade não quer mais viver em função da juventude eterna, mas sim viver a passagem dos anos positivamente e com vitalidade.

 
Decretar o fim, ou pelo menos ressignificar o termo “anti-aging”, é deixar claro que nenhum produto de beleza fará com que a pele e cabelos voltem ao estado que era há 20 ou 30 anos atrás. Alinhar os produtos de beleza à idade real de suas consumidoras, deixando claro as melhorias que esses cuidados trazem, sem idealismos impossíveis, é uma estratégia bem mais alinhada com o desejo atual de seu público-alvo. Incluir mulheres mais velhas nas campanhas de moda e como o “rosto” das marcas desse nicho cria uma aproximação com os consumidores que jamais seria possível com qualquer modelo de 20 ou 30 anos de idade.
A vida não deve parar
O desejo de viver eternamente com 20 anos de idade está, aos poucos, sendo deixado de lado, marcando uma transformação sociológica em relação à idade e em como as próprias mulheres estão se enxergando. Agora, a real intenção é viver a idade atual de maneira completa e satisfatória, já que com o passar dos anos há uma evolução de ideias, desejos e até no físico, já que a modernidade têm criado diferentes maneiras pouco invasivas de garantir a qualidade de vida mesmo durante a velhice. O cuidado com a saúde e a inclusão de hábitos saudáveis na rotina também colaboram para manter o corpo e a mente em pleno funcionamento.

A própria Isabella Rossellini resolveu perseguir algumas paixões antigas, que a acompanhavam desde antes do início de seu trabalho como atriz e modelo. Aos 60 anos, ela voltou para a faculdade, e em 2019, com 66 anos, Isabella concluiu um mestrado em comportamento e conservação animal, tema pelo qual já tinha interesse quando mais jovem. 

 
Ruth Bader é outro exemplo de como a vida continua plenamente com o passar dos anos. Ela foi uma advogada e juíza norte-americana que serviu como juíza associada da Suprema Corte dos Estados Unidos de 1993 até sua morte, no final de 2020, com 87 anos de idade. Durante sua trajetória na Suprema Corte, ela se tornou um ícone da luta pelos direitos das mulheres e membro mais antigo da organização.

Envelhecer não é um processo fácil, especialmente dentro de uma sociedade que exalta a juventude como único ideal e ainda segue com uma visão tão problemática sobre envelhecer. Para as mulheres mais velhas, o processo de encarar o passar dos anos e as mudanças que o acompanham nem sempre é um caminho tranquilo. Neste caso, vale buscar a ajuda de um profissional formado em uma faculdade de psicologia, além de outros especialistas em diferentes áreas, para aceitar e respeitar essa fase da vida.

Entender o envelhecimento como uma oportunidade para novas experiências, em um momento diferente e mais maduro da vida, pode colaborar para ressignificar essa fase, que é gradualmente encarada de maneira mais natural e gentil.

O artigo Por que devemos parar de usar o termo anti-aging? foi publicado pelo L'Officiel Brasil.

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