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POTENCIALIDADES > Funmilayo Afrobeat e a pluralidade como potência na música

Integrantes da banda Funmilayo Afrobeat Orquestra / Foto: José de Holanda

Integrantes da banda Funmilayo Afrobeat Orquestra / Foto: José de Holanda

*Esse conteúdo é parte da serie POTENCIALIDADES com curadoria de Jal Vieira publicada aqui e em nossas redes

O Potencialidades dessa semana tem como convidade uma banda potente que tem
feito a diferença na música atual brasileira e, também, mundial: a Funmilayo Afrobeat
Orquestra.

Surgida em março de 2019, a Funmilayo teve seu pontapé inicial dado por Larissa
Oliveira (trompetista) e Stela Nesrine (saxofonista e vocalista) que tinham o sonho de
criar um grupo de afrobeat com o maior número possível de mulheres negras. Ambas
já conheciam Vanessa Soares – dançarina e produtora do grupo – e, por toda a sua
trajetória no afrobeat, foi muito natural que o caminho das três artistas se cruzasse no
projeto.

Vanessa Soares | Foto: Isa Lyra

Vanessa Soares | Foto: Isa Lyra

A banda que tem o nome em homenagem a professora e ativista nigeriana Funmilayo
Ransome-Kuti – pessoa fundamental na luta feminina por direitos na Nigéria –, é
composta por mulheres e pessoas não-binárias e a única no mundo com essa
representatividade, no que tange a história do afrobeat – ritmo que combina a música
yorubá com outros estilos musicais como o jazz e funk, e que foi popularizado em
1970 por Fela Kuti, filho da ativista Funmilayo. Já a escolha do ritmo se deu não
apenas por seu caráter politicamente crítico e combativo, mas também por
enxergarem nele uma enorme defasagem de espaços e protagonismos femininos.

Não à toa, o primeiro single da banda, chamado NegrAção, com composição
de Stela Nesrine, começa com uma ode à Marielle Franco, uma das mulheres
mais potentes que o cenário político brasileiro já teve, e que mesmo após a
sua morte, continua reverberando em tantas outras vivências e lutas pretas.

Por toda a potência que a Funmilayo representa, o Potencialidades conversou
com a banda para saber um pouco mais de sua trajetória. O resultado dessa
conversa você confere no podcast Fashion Weekly, em um bate papo
potente e ancestral com Ana Góes (saxofonista e vocalista), Bruna Duarte
(baixista) e Tamiris Silveira (tecladista).

Destacamos aqui, alguns trechos da entrevista que fizemos com a banda:

Ana Góes | Foto: José de Holanda

Ana Góes | Foto: José de Holanda

Bruna Duarte | Foto: José de Holanda

Bruna Duarte | Foto: José de Holanda

Tamiris Silveira | Foto: José de Holanda

Tamiris Silveira | Foto: José de Holanda

Potencialidades: A Funmilayo foi a primeira jam composta, até então, somente por mulheres pretas. Atualmente, não somente mulheres, mas pessoas não binárias também a compõem. Porém, na época de surgimento da banda, qual foi o peso pessoal para cada um de carregar esse título de “a primeira banda a”?

Funmilayo: No início sentíamos que era uma grande responsabilidade e desafio (e
continua sendo), sentimos receio do cruel processo de objetificação que as mulheres
passam (mas seguimos em frente) e, ao mesmo tempo, acredito que foi geral entre
nós o sentimento de indignação perante o fato de sermos a primeira banda com essas
características, sendo que existem várias mulheres e pessoas lgbtqia+ extremamente
talentoses que tocam e compõem. Isso nos leva a refletir sobre o quanto a música, e
especificamente o afrobeat, são lugares dominados por homens e o quanto isso pode
ser desencorajador para muites.

P: Como foi a escolha de cada integrante que compõe a banda/equipe?

F: Quando Stela e Larissa estavam começando a arquitetar a ideia da banda, já
haviam algumas musicistas que pensaram em convidar a participar do grupo. Larissa
já era próxima de algumas, de outras tinha apenas interação em redes sociais. A
maioria das pessoas aceitaram o convite com muita alegria e empolgação. Outras
recusaram o convite por diversos motivos.

Fomos colocando uma a uma em um grupo de Whatsapp para que todas se
conhecessem, e desde o primeiro momento nossa interação foi muito boa.
Nos primeiros ensaios já estávamos com o time quase completo. Ainda não tínhamos
pianista e guitarrista, continuamos a procurar, mas depois de alguns meses Jasper
(guitarra) e Tamiris (piano) vieram para completar nosso time.

P: Comentem sobre as parcerias que já fizeram como, por exemplo, tocar com Bia Ferreira e As Bahias e a Cozinha Mineira.

F: A visibilidade das mulheres e pessoas trans instrumentistas ainda é muito
prejudicada pelo contexto machista que atinge o mercado da música. A Funmilayo,
mesmo sendo uma banda nova, trouxe para muites de nós uma certa visibilidade
dentro das redes sociais. Acredito que isso foi fundamental para que algumas das
integrantes fossem chamadas para tocar com tais artistas. Tamiris e Larissa são parte da banda da cantora Bia Ferreira, que inclusive participou do nosso último show antes da quarentena, no Auditório Ibirapuera. Stela, Larissa, Tamiris participaram do bloco de carnaval d’As Bahias e a Cozinha Mineira.

Stela Nesrine | Foto: José de Holanda

Stela Nesrine | Foto: José de Holanda

P: Qual a importância da Funmilayo na vida de cada ume des integrantes?

Stela Nesrine: Na minha vida a Funmilayo é a materialização de um sonho de um
projeto musical afrocentrado, um solo fértil para o nosso florescimento artístico coletivo e individual e pra mim é muito importante fazer parte de algo que pode ser referência e abrir um pouco mais os caminhos pras nossas crianças pretas.

Larissa Oliveira | Foto: José de Holanda

Larissa Oliveira | Foto: José de Holanda

Larissa Oliveira: Pra mim a Funmilayo é o sonho dos nossos ancestrais se
realizando através da nossa potência juntes. A esperança de que ainda dá pé e a
certeza da continuidade. Obs.: que saudade, amo vocês.

Sthe Araújo | Foto: José de Holanda

Sthe Araújo | Foto: José de Holanda

Sthe Araújo: A importância da fun na minha vida é a troca do meu eu com o coletivo, é levar a minha história e aprender com a história das outras pessoas e transformar em arte, música e educação em todos os espaços que a gente estiver.

Rosa Couto | Foto: José de Holanda

Rosa Couto | Foto: José de Holanda

Rosa Couto: A Fun na minha vida é um divisor de águas, um desafio que eu jamais
imaginei que iria encarar, ainda mais tão bem acompanhada. É o privilégio de viver na
prática muita coisa que eu só entendia na teoria e nos livros: coletividade, irmandade,
musicalidade, performance, utopia. É realmente um sonho que quero deixar de
herança nesse mundo!

Jasper | Foto: José de Holanda

Jasper | Foto: José de Holanda

Jasper: A Funmilayo me fez perceber a importância da união preta e do quão
necessário é lutar pela nossa narrativa na música, afinal muito do que a gente
conhece dela nasceu da gente ❤  Bônus: realizou meu sonho tudo.

Pri Hilário | Foto: José de Holanda

Pri Hilário | Foto: José de Holanda

Pri Hilário: A Fun me tirou de um certo tipo de inércia, mesmo trabalhando muito eu
estava em um lugar de sempre fazer a mesma coisa e na correria, a Fun me resgatou.
Junto com isso vieram muitos desafios musicais, muita criatividade, coletividade e
poder tocar juntos dos seus uma música tão potente é a realização de um sonho.

AfroJu Rodrigues | Foto: José de Holanda

AfroJu Rodrigues | Foto: José de Holanda

AfroJu Rodrigues: Um encontro ancestral como se fosse um sonho, e foi algo que
era plantado e esperado por cada um des integrantes na sua trajetória e também
esperado e aclamado pelo nosso público.

P: Quais as maiores vitórias que a banda já vivenciou?

F: Ter um local de ensaio, o essencial pra qualquer banda. O Mancha possibilitou isso
pra gente e a partir dessa atitude, tudo aconteceu. Gravamos nosso primeiro single
NegrAção pelo projeto “Escuta as Minas” do Spotify, que foi nossa primeira
experiência juntas em estúdio. Nossa estreia nos palcos foi no Sesc, que é sempre um espaço muito respeitado, isso com certeza foi uma conquista. Tocar para Conceição
Evaristo e Sueli Carneiro foi uma sensação de estar fazendo a coisa muito certa, um
show que sempre iremos nos lembrar. Subir no palco Auditório do Ibirapuera foi uma
realização para todas nós e ainda fizemos parceria com Bia Ferreira, que admiramos
muito além de ser parte importantíssima na luta contra o racismo. Participamos
virtualmente do Latinidades 2020, que é o maior festival de mulheres negras da
América Latina, foi com certeza uma experiência que gostaríamos de repetir, quem
sabe ao vivo na próxima. São todas as coisas que aconteceram, nem sempre boas é
claro, mas tendo pouco mais de um ano de existência, somos muito gratas por tudo.

Funmilayo com Bia Ferreira no Auditório do Ibirapuera | Foto: Isa Lyra

P: Como tem sido a (r)existência da banda em tempos de quarentena?

F: Essa é uma questão muito delicada quando falamos de uma banda formada
somente por pretes. Com o cancelamento dos shows muites de nós ficou sem uma
importante fonte de renda, o que de certa forma reforça a necessidade de lutarmos
socialmente por mais estabilidade. É muito injusto que num país como o nosso,
majoritariamente negro, pretos e pretas sejam as primeiras a sofrerem as
consequências de uma crise e isso acontece pois somos a camada mais fragilizada da
população. Mas seguimos resistindo, participando de lives e festivais quando somos convidades, produzindo conteúdo de qualidade para as redes sociais, compondo,
aprendendo a editar áudio e vídeo, fazendo cursos, realizando e cedendo entrevistas e
nos preparando para quando esse momento passar. Esperamos estar juntes em
breve.

O podcast também está disponível nas principais plataformas de streaming
como Spotify, Apple Podcasts, Stitcher, Google Podcasts, Breaker entre outras.

O artigo POTENCIALIDADES > Funmilayo Afrobeat e a pluralidade como potência na música foi publicado pelo FFW.

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