Projota estreia no cenário internacional sem renunciar às suas origens
Você acha que houve uma quebra de paradigmas depois disso?
Sim, tenho certeza. A periferia passou a ser vista pela sociedade. Eu fui para a faculdade, cursei três anos de Educação Física graças ao Prouni.
O rap caiu nas graças da burguesia. Isso abalou a essência do movimento?
Você não segura um leão. É importante que as pessoas sejam acolhidas, sejam elas pobres, ricas, pretas ou brancas. Tem quem faça música por dinheiro e tem quem faça por amor. São discursos que as pessoas conseguem enxergar.
Qual é a diferença do rap americano para o brasileiro?
Hoje não há diferença. A Internet globalizou a música e a informação é imediata. O que está na crista da onda lá fora é o trap, que também já desembarcou aqui. O Matuê é um ótimo exemplo desse gênero.
Com quem você ainda quer fazer rima?
Mano Brown.
Como você se posiciona a respeito da legalização da maconha?
Nunca experimentei nada de drogas, nem mesmo cigarro. Sou fraco para o álcool e não curto. Mas não é porque nunca fumei maconha que sou contra a sua legalização. Ao contrário, acho que está na hora de deixar a hipocrisia de lado.
Qual é a sua preparação antes de encarar o palco?
Oração e água.
Você é evangélico?
Não. Mas gosto de ter uma sensação de proximidade com Deus. Às vezes vou à Bola de Neve. Sou um cara de fé.
Que mensagem tem na sua música?
A minha música é biográfica, uma espécie de autoanálise. Eu revivo os meus problemas sis- tematicamente graças ao meu repertório.
Há alguma música que você prefere não cantar mais?
Escrevi uma música para a minha mãe, chamada “Véia”. Ela me entristece… “Não posso tocar sua pele, mas eu sinto seu amor. É foda quando o sentimento se solta. Cê chora ao ver que já passou dez anos e ela não volta.”
O que o rap te deu?
As melhores coisas da minha vida, mas tam- bém me deu depressão, ódio, questionamentos… Precisei de um tempo de introspecção para entender todo o julgamento e parar de dar bola para as críticas negativas.
Como nasceu a música ¿Qué Pasa?
Componho com o som da batida. E quando ouvi a base do Danny B. escrevi o refrão em português e pensei como seria a versão em espanhol. Na hora sabia que tinha que ser com os Orishas e com o Mario Bautista.
Falemos de política…
Estamos em um momento muito doido. O mundo está sendo guiado pelas redes sociais. É um tanto assustador alguém virar “mito”. Fico pensando em que momento as pessoas passaram a idolatrar político? Eu não idolatrei nem o cara que me possibilitou fazer faculdade… Não quero que liberte ninguém, quero é que prendam os outros!
Jair Bolsonaro?
Esse cara ser o presidente do Brasil é surreal. Eu não tinha nenhum candidato nessa última eleição, só que não queria o pior para o País. Acho que as consequências serão muito dolorosas.
Você será pai. O que você espera para o futuro?
A minha filha será uma privilegiada. Ela terá uma condição econômica mais favorável, o que certamente muda tudo. Marieva (mistura de Maria e Eva) já é uma exceção.
Quem é o Projota?
É um cara simples, que faz o melhor ovo frito de gema mole (e o mais bonito) do mundo; que é feliz e grato a cada conquista e também a cada derrota.
O artigo Projota estreia no cenário internacional sem renunciar às suas origens foi publicado pelo L'Officiel Brasil.
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