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Marcas deixam streetwear de lado e decretam a volta do “chic”

Por muitas temporadas vimos as principais marcas do mundo, de Off-White a Chanel, olharam para o streetwear como inspiração. Esse fenômeno que tomou a moda contribuiu para que a roupa ficasse mais “real” e moletom e tênis, de repente, viraram artigos de ultra luxo.

Demna Gvasalia mergulhou fundo e tem trazido para as passarelas da Balenciaga uma “investigação sociológica sobre a condição do homem corporativo”, pesquisando os códigos de vestimenta dos executivos, dos nerds e do homem casual, que leva os filhos no parque no domingo. O Verão 2018 é um ótimo exemplo, uma volta ao básico, ao uncool, à roupa do dia a dia do “homem comum”, mesmo que o preço final empurrasse essas peças diretamente para os muito ricos.

Nesta temporada houve uma mudança nítida de direção. Os estilistas cansaram do trivial e querem voltar a fazer o que é especial. Dois desfiles são determinantes para comprovar essa transição: Celine e Balenciaga.

Na Celine vimos uma mudança radical. No lugar das Courtney Loves versão teen, jovens mulheres ricas com pantacourt, vestidos e saias midi, capas e casacos ornamentados. Não há nenhuma peça acima do joelho nem resquícios da imagem rock n roll, que é a assinatura de Hedi Slimane. Ao contrário: essa coleção fala mais com a consumidora tradicional da marca, que prefere peças atemporais com uma pegada cool à tendência do momento. E Slimane entrega à elas looks prontos para o trabalho, lazer, viagens e festa. Todos impecáveis, porém aparentemente sem esforço: abriu o armário, pegou um jeans e foi.

Celine / Reprodução

Celine / Reprodução

Celine / Reprodução

Celine / Reprodução

No desfile da Balenciaga, Gvasalia diz que o streetwear acabou como tendência de moda, mas que a coleção está cheia de referências de streetwear reinterpretadas de uma maneira que acredita ser mais moderna. Portanto, ele ainda olha para o vestuário comum ou para o uniforme de trabalho, mas de maneira mais rigorosa, com ênfase no corte e na construção. E ele vai ao extremo encerrando o desfile com cinco vestidos de festa, daquelas que realmente só os muito, muito ricos têm acesso.

Stella McCartney, Givenchy e Altuzarra também seguem nesta direção.

É compreensível que os estilistas começassem a buscar outros caminhos porque, naturalmente, o streetwear, o uniforme, a roupa comum iriam se esgotar. Quantas coleções diferentes e criativas você consegue fazer sobre o mesmo macro tema? Então agora, a moda parece migrar para lado oposto, onde as marcas podem trabalhar corte, construção, ornamentos e inserir a roupa num lugar mais rigoroso, especial e único.

Balenciaga / Reprodução

Balenciaga / Reprodução

Balenciaga / Reprodução

Balenciaga / Reprodução

Curiosamente, duas séries atuais abordam esse universo dos super ricos. Succession, hit da HBO, mostra a saga da família de Logan Roy, bilionário dono de um grupo de mídia, com três filhos: o sucessor natural Kendall, o rebelde (sem causa) Roman e a inteligente e independente Shiv. O figurino é milimetricamente construído e de uma forma muito inteligente. Os ternos de Kendall são tão impecáveis que praticamente vemos os cifrões estampados em cada cena. Para suas viagens de helicóptero ou momentos mais casuais, boné, tênis Lanvin e jaquetas de nylon com shape de paletó (Moncler talvez?). Shiv, com seus looks Stella McCartney e The Row, já virou uma tendência em sites de moda e-commerces, com centenas de matérias do tipo: copie o look de Shiv Roy. Mais do que estilo, ela tem bom gosto e muito dinheiro pra gastar em roupas. 

Shiv Roy / Reprodução

Shiv Roy / Reprodução

A outra série é The Politician, que acaba de entrar na Netflix e que também acontece em uma roda social super privilegiada, com foco em estudantes de um colégio de elite na Califórnia que oferecem saborosas doações para Harvard em troca de ser aceito na faculdade, ainda que não tenham entrado por mérito. Os jovens da trama se vestem de marcas de luxo da cabeça aos pés (Gucci, Chanel, etc) e a personagem de Gwyneth Paltrow faz jardinagem usando um vestido de festa vermelho de Oscar De La Renta.

Assim como nas séries, na vida real o figurino também parece importante para a construção de uma narrativa. Mas de toda forma, é curioso ver que a moda, que não deixa de ser um espelho da sociedade, está indo por esse caminho em um momento em que a desigualdade está sendo tão questionada, falada e protestada e uma grande busca por mudança está em andamento.

O artigo Marcas deixam streetwear de lado e decretam a volta do "chic" foi publicado pelo FFW.

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