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Gucci vira carbono neutro para enfrentar crise climática

A Gucci publicou nesta quinta (12.11) um anúncio de que é, hoje, totalmente neutra em carbono. Um press release foi enviado a veículos do mundo inteiro mostrando todas as ações que a marca tem feito para promover mudanças positivas e reduzir impactos ambientais. “A Gucci anunciou hoje que está compensando todas as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) anualmente de suas próprias operações e de toda a cadeia de suprimentos, por meio de quatro projetos REDD+1 que apoiam a conservação das florestas ao redor do mundo. Em um compromisso sem precedentes com a liderança em sustentabilidade em luxo e moda, a cadeia de suprimentos da Gucci tornou-se carbono neutro”, diz o comunicado.

REDD+ (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal ou, em inglês, Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation) é um conjunto de incentivos econômicos desenvolvido pela UNFCCC  (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima) com o fim de reduzir as emissões de gases de efeito estufa resultantes do desmatamento e da degradação florestal.

Há alguns anos, a marca italiana passou a incorporar em sua operação e estratégia, ações de longo prazo em prol da sustentabilidade, olhando não apenas para dentro da própria empresa, mas também para toda sua rede de suprimentos. A cadeia de suprimentos é hoje o principal problema da indústria da moda porque, por conta de sua complexidade, nem sempre quem contrata consegue enxergar de onde ela vem e onde desemboca. Dentro do mercado de luxo, essa cadeia é a que mais impacta no ambiente, responsável pela maior parte das emissões (cerca de 90%) e também abre espaço para que casos de trabalho escravo continuem surgindo. Assim, olhar para sua cadeia é trabalhoso, porém fundamental para fazer as mudanças necessárias.

Site da Gucci Equilibrium, que mostra dados sobre sua performance ambiental / Cortesia

Assim, a Gucci está trabalhando em uma abordagem abrangente, estabelecendo um comportamento para o mercado de luxo. A marca criou uma plataforma de EPL (Environmental Profit & Loss), em que informam suas pesquisas de produtos, design, decisões de fornecimento e desenvolvimento geral de negócios. Ela foi uma das primeiras marcas de luxo a adotar o EP&L, que atua como uma referência para medir o progresso durante a implementação de sua estratégia de sustentabilidade de 10 anos (2015-2025). Sua meta é “evitar, reduzir, restaurar e compensar emissões de GEE”, trabalhando em várias frentes. “Ao fazer isso, a Gucci está estabelecendo um novo caminho para a neutralidade de carbono, destacando a necessidade de as empresas serem corretas e responsáveis por todas as emissões em suas cadeias de fornecimento”.

Não é uma mudança fácil. Nenhuma empresa vai dormir e acorda sustentável. É preciso ter tempo, dinheiro, conhecimento, parcerias sérias e efetivas, muita energia e coragem para olhar para dentro e iniciar a transformação não só de como você faz, mas também de como você pensa. Para muitas companhias,  equivale praticamente a um renascimento. Portanto, as ações da Gucci são válidas e servem como exemplo de um call to action para o mercado de luxo.

Posto isso, também sabemos que estamos olhando para o que a Gucci (ou qualquer outra marca) nos mostra, mas e o que não é mostrado? Esses questionamentos já estão no Instagram, debaixo dos três posts, feitos por seguidores que querem mais do que anúncios, querem provas. “Como pode uma marca de moda ser inteiramente neutra em carbono? Por favor expliquem”, diz um dos comentários. Outros dizem que isso é apenas uma campanha de marketing e muitos se incomodaram com o símbolo do olho, que lembra o dos Illuminati. Há ainda muitas perguntas, poucas respostas.

É natural que uma marca use suas ações como comunicação e marketing. Esse assunto “sustentabilidade” desencadeou uma corrida entre empresas do mundo inteiro – e não apenas de moda – porque trata-se de uma mudança de mindset que, uma vez entendida e consolidada, não será possível voltar atrás. Portanto, é também uma oportunidade de marketing ultra potente que vai dividir quem está agindo (“0 bem”) de quem não está (“o mau”). De cara, o que a Gucci está comunicando? Que ela está mais conectada com o mundo e suas necessidades atuais muito mais do que milhares de outras grifes.

Porém, sabemos também que as marcas não são empresas boazinhas que querem apenas ajudar a melhorar o mundo. Mudar o mundo – ou melhora-lo – é uma urgência que envolve todos os cidadãos e empresas do planeta. Existe um sistema vigente que prega quanto mais melhor em uma época de menos é mais. É importante sim que as pessoas questionem e exijam mais informações e provas que alicercem suas colocações.

Nesse momento de profunda transformação, há mais perguntas do que respostas, mas também é o momento de rever e derrubar padrões. É uma época tão caótica quanto também excitante no sentido de que há muitas descobertas que estão surgindo derivada de inovação.

Abaixo, compartilhamos os dados enviados pela Gucci referente às suas ações, alguns deles já divulgados em seu perfil no Instagram:

Operações de Varejo à Manufatura

Aumentar o uso de energia renovável nas operações, lojas, escritórios e depósitos da Gucci dos atuais 70% para 100% até 2020. Essa transição já alcançou uma redução de cerca de 45.800 toneladas de CO2 em 2018.

Criar e otimizar a eficiência durante a produção e a fabricação, implementando abordagens criativas. Isso inclui o programa Gucci Scrap-Less, que usa muito menos água e produtos químicos para tratar o couro e reduz as emissões de GEE relacionadas ao transporte. Por exemplo, oito curtumes participaram em 2018 e foram alcançadas significativas reduções no consumo de energia (843.000 kW); uso e efluentes da água que entram no fluxo de resíduos (10 milhões de litros); consumo químico (145 toneladas, incluindo 28 toneladas de cromo), restos de couro (66 toneladas). Durante esse período, aproximadamente 3.400 toneladas de CO2 foram evitadas com a implementação deste programa.

Aumentar as abordagens em torno da circularidade, incluindo o programa Gucci-Up, que faz o up-cycling do descarte de couro e têxtil gerado durante a fabricação. Por exemplo, em 2018, o programa reutilizou cerca de 11 toneladas de pedaços de couro e economizou aproximadamente 4.500 toneladas de CO2.

Continuar a estabelecer um caminho claro de redução em toda a cadeia de suprimentos, gerando verdadeira transparência por meio da contabilidade de capital natural. A Gucci foi uma das primeiras marcas de moda a publicar um EP&L em 2017 e, anualmente, compartilha abertamente todos os seus impactos e dependências da natureza.

processamentos e matérias primas

A Gucci já atingiu ma redução de 16% de sua footprint em toda a sua cadeia de suprimentos desde 2015, em relação ao crescimento.

Maximizar tecnologias e abordagens de reciclagem, como mudar para plásticos reciclados como um complemento adicional à proibição de PVC pela Gucci desde 2015, e usar metais reciclados em acessórios e joias. Substituir as matérias-primas virgens tradicionalmente usadas em joias e acessórios por ouro, prata e paládio reciclados, evitando os impactos de mineração e extração em cerca de 11.000 toneladas de CO2 em 2018.

Inovar em soluções que irão trocar técnicas tradicionais de processamento por outras mais sustentáveis, como o programa de curtimento sem metal da Gucci, que elimina o uso de metais pesados no processo de curtimento de couro.

Aumentar ano a ano o uso de fibras orgânicas, como algodão e seda orgânicos certificados pelo GOTS (Global Organic Textile Standard), o que evitou o uso de aproximadamente 2.700 toneladas de CO2 em 2018.

Concentrar-se em garantir que as fibras celulósicas, como a viscose, sejam originárias de florestas certificadas pelo FSC (Forest Stewardship Council) e de produtores que atendam às auditorias do CanopyStyle. Além disso, focar no fornecimento de produtores que possuem sistemas de gerenciamento químico em circuito fechado. Além disso, manter papel e papelão 100% certificados pelo FSC para todas as embalagens.

Continuar mudando para matérias-primas alternativas mais sustentáveis e de baixo impacto, como nylon regenerado ECONYL® cashmere regenerada e ouro ético-responsável.

Obter matérias-primas de países preferenciais e sistemas de produção com menor impacto ambiental, como couro, pelo qual essa estratégia provou mitigar os impactos associados ao couro em até cinco vezes. Além disso, obter couro de sistemas agrí colas que evitam a degradação e destruição de ecossistemas naturais, enquanto regeneram o solo, além de garantir que as fazendas não estejam de forma alguma ligadas ao desmatamento. Em 2018, essas práticas de fornecimento evitaram cerca de 372.800 toneladas de CO2.

RESTAURAR + COMPENSAR

Otimizar o fornecimento de matérias-primas de sistemas agrícolas que restauram solos e habitats para biodiversidade importante.

Implementar um portfólio inovador de compensação global por meio de projetos REDD+ que mitigue as mudanças climáticas, crie um impacto econômico e social positivo para as comunidades locais e proteja a vida selvagem e seus habitats globalmente significativos.

Ir muito além da abordagem de compensação mais convencional – focada nos escopos 1 e 2 (e às vezes uma parte muito limitada do escopo 3) do Protocolo de GEE4 – , e também compensar anualmente todas as emissões de GEE na cadeia de suprimentos associadas à criação, transformação e produção, bem como fabricação de produtos. Em 2018, isso foi equivalente a compensações de 1,4 milhão de toneladas de CO2E, a um custo de US$ 8,4 milhões.

Apoiar a conservação e restauração dos refúgios de biodiversidade mais importantes do mundo, abrangendo aproximadamente 1.102.000 hectares de florestas para a compensação da Gucci em 2018.

O artigo Gucci vira carbono neutro para enfrentar crise climática foi publicado pelo FFW.

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