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Precisamos Falar Sobre: Comida

Já faz muito tempo que quero escrever essa matéria, mas a correria do dia a dia, aliada ao medo das críticas e de falar sobre algo que me assombra, me fizeram postergar por um bom tempo. Pois bem, chegou o momento. Precisamos falar sobre comida. Precisamos falar sobre distúrbios alimentares.

Por anos e anos nós acreditamos em padrões estéticos que fizeram com que as nossas avós, mães, irmãs, amigas (a lista continua…) acreditassem que ser bonita estava sempre associado a ser magra. E agora, finalmente estamos (quase) todos lutando de verdade para (tentar) enfim quebrar com esses padrões, esses demônios que nos assombram e que geraram tantos traumas em nós. Por isso achei importante contar sobre a minha relação com a comida. E espero que esse relato mostre para você que não está sozinha. Nós somos muitas!

Foto: Catharina Dieterich (Reprodução)
Vou começar contando um pouco da minha história e da minha relação com a comida. Tenho certeza que algumas (e alguns) de vocês vão se identificar. Mas quero deixar claro que não sou especialista e nem tenho ajuda de um médico. Tudo o que vou falar aqui são as minhas experiências, pra lembrá-las de que vocês não estão sozinhas. O intuito é me abrir, compartilhar minhas dores e também o que me ajuda a me tornar melhor e a contornar esse monstro que a comida é pra mim. Sim. A comida é um monstro que me assombra desde que eu me lembro por gente.
 
E a minha história com ela começa assim: quando eu tinha uns 10 anos, lembro das férias de verão na casa da minha avó, fazendo dietas com ela (sim, com 10 anos eu fazia dieta!). Ela me dizendo o que engordava e o que não engordava. E adivinhem? Eu amava comer e estava sempre acima do meu peso, quando comparada às meninas magrinhas da minha idade. (Eu era uma criança saudável, porém nunca fui aquelas magrelinhas, sabe?).

Lembro muito bem quando tinha 13 anos e tive uma disfunção hormonal devido ao meu ovário policístico, e foi quando eu emagreci bastante. Sequei. Espichei. Todos à minha volta comentavam. Me senti mais bonita, afinal, quem não se sentiria assim, com todos os elogios que foram surgindo apenas quando eu estava magrinha? E o que aconteceu em seguida? Fiquei com medo de comer. Medo de voltar a ser a criança cheinha, que não era tão bonita quanto as magras. E então? Fiquei anêmica, maníaca por exercícios físicos e com pânico de comida. Lembro de um diário que encontrei depois de alguns anos, em que em um dia x, eu relatava que comi dois sonhos de valsa e calculava quantas calorias deveria gastar no transport no dia seguinte. Aliás, falando em calorias, eu tinha um livrinho que ganhei de “brinde” junto com uma revista Boa Forma, que eu consultava zilhões de vezes por dia, pra calcular o que eu havia comido e o que eu ainda podia comer. E, pasmem! Sei de cor e salteado as calorias de absolutamente tudo o que possa existir hoje em dia, graças a bendita – ou melhor, maldita! – revista Boa Forma (e todas as outras revistas de culto ao “corpo perfeito”). Afinal, foram anos de estudos no livrinho.

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Foto: (Reprodução/Google)

A ansiedade de viver o segundo grau do colégio só aumentava. Eu não sabia o que queria estudar na faculdade. Eu me achava feia, não gostava do meu cabelo, do meu nariz, do meu corpo. Na minha cabeça, eu nunca estava magra o suficiente. Eu acreditava que a minha mãe tinha inveja de mim, quando ela tentava fazer eu comer mais. Eu criei um tique nervoso, que me fazia me apoiar em superfícies, com a barriga, pra apertar e fazer ela “ficar mais pra dentro”. Tenho esse tique até hoje. Mesmo sabendo muito bem que não preciso fazer isso, me pego direto empurrando a barriga pra dentro.

Depois começou a fase sanfona: engordei 18kg e me odiei ainda mais, afinal, sempre me fizeram achar que só era bonita quando era magra. E assim passaram os meus dias, meses, anos… Dieta atrás de dieta, eu emagrecia muito, ficava uns meses magérrima, e aí vinha a compulsão (importante dizer que nunca fui diagnosticada por nenhum médico, porque eu nunca procurei ajuda médica), e eu comia, comia, comia, comia…enfim! Comia até a barriga doer, até a cabeça doer. Até colocar o dedo na goela e vomitar (sim, mãe, eu fazia isso. E só a minha irmã sabe disso até hoje, pois me pegou no flagra). E depois me sentia culpada por tudo isso. E aí voltava pra dieta. E emagrecia muito. Do nada, virava a chave, e eu acordava de madrugada e atacava todo o pão que via na frente e a comida que eu não tinha jantado na hora do jantar, gelada mesmo. Mais uma caixa de bis ou uma lata de leite condensado. Às vezes os dois juntos. Somado a mais tudo o que eu via na frente, sem nem ter graça alguma.

Por volta dos meus 25 anos, a minha melhor amiga, que também teve distúrbios alimentares além de outros problemas psicológicos (todos diagnosticados por médicos), começou a dizer que eu tinha problema. E eu ficava furiosa, irritada e não gostava do assunto. Até que chegou um dia em que amigos muito queridos reuniram-se pra me dizer que eu deveria falar sobre outra coisa, pois eu só falava sobre comida e dieta. Eu me senti péssima. Me senti como uma companhia terrível, afinal, quem quer estar ao lado de alguém que só fala de comida e dietas? Mas é que a minha vida era assim. Eu era submissa à comida. Quando não estava comendo (mesmo quando fora da dieta, ou, principalmente quando de dieta – leia-se 95% dos meus dias), eu estava pensando no que eu comeria daqui a pouco, e contando as calorias que eu poderia comer, e quantas eu já havia gasto… E assim passavam os meus dias. Entre a dieta da sopa, da fruta, da proteína, do low carb, cetogênica, do jejum intermitente, da semana inteira comendo meia fatia de pão e uma ameixa por dia, eu ia contando hora atrás de hora pra saber quando eu comeria de novo e o que eu comeria de novo. 

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E foi apenas no ano passado (21 anos depois que fiz a minha primeira dieta) que eu comecei a enxergar que a maior parte das mulheres que eu conheço também sofre com esse assunto. Fiquei muito próxima de uma menina e não entendia como, ela vivia de jejum. Saíamos pra jantar, almoçar, e ela nunca comia. Até o dia em que tivemos “um ataque” juntas. Comemos sem parar até não aguentar mais. E aí que percebi que sofríamos da mesma coisa. Foi então que comecei a conversar com tantas outras mulheres que também passam por isso. Que vivem em função da comida. Com medo dela e ao mesmo tempo com essa adoração por ela. 

E foi aí que eu enxerguei que a maior dor da minha história não é engordar ou emagrecer e sim ser prisioneira da comida. É ter medo dela, viver pensando nela. Amando e odiando ela. 
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Desde então, parece que eu tive um click. Acredito que a consciência em relação ao meu problema me tornou mais forte. Decidi que eu não queria mais viver a vida de dieta. Assumi que tenho problema e comecei a ler muito sobre diversas formas de melhorar. E nada de livros sobre dietas e culto ao “corpo perfeito”. Livros como “O Poder do Hábito” me ajudaram a enxergar que muitas vezes eu como por um hábito e não porque tenho fome. Outros livros, como “O Poder do Agora”, me fizeram enxergar que a gente tem que viver o hoje, e não ficar esperando a dieta acabar para estar “mais magra” ou mais qualquer outra coisa. A gente tem que ser feliz no corpo que tem. Livros como o “Zero Limits”, que fala sobre o Hoponopono, me ajudaram a criar um mantra pra me acalmar e melhorar a minha ansiedade. Pra limpar a mente e ficar tranquila.
Esse momento em que vivemos também me ajudou muito. Eu defendo e levanto a bandeira de que mulheres são lindas, sejam elas magras, gordas, altas, baixas, novas, velhas, enfim. São sempre bonitas, longe de qualquer padrão. E eu acredito e sei que isso é verdade. E eu luto para quebrar esses padrões de estética que me fizeram sofrer tanto e que fazem tanta menina, desde criança mesmo, à mulheres adultas sofrerem.
 
Nesse processo, a yoga e a meditação também têm me ajudado demais. Me fazem limpar a mente, esquecer que o mundo não gira em torno da comida, muito menos de um padrão de beleza.

Headspace é o aplicativo que me ajudou – e ajuda – muito a meditar. Super recomendo!

Importante!!! Eu demorei 21 anos pra ter esse click. Foram 21 anos de muito sofrimento, angústia, achando que eu ia conseguir melhorar. Mas se tem uma dica que posso dar a você é: se você está aí lendo isso e se identifica, procure ajuda o quanto antes. Converse com quem você conhece, busque orientação médica e psicológica. É ok precisar de ajuda. Assumir que somos vulneráveis é um grande passo.

 

Para começar a fazer yoga, basta ter vontade. Mas se matricular em algum curso vai ajudar, e muito. Eu acho muito melhor praticar em grupo, mas quando você estiver sozinha, vale assistir a vídeos do Youtube. Eu pratico Ashtanga sempre com a ajuda do vídeo do canal da Fernanda Lima.

Sim, eu estou muito melhor hoje porque aprendi a aceitar e reconhecer o meu problema, mas eu não estou curada 100% desse mal. Ainda me pego comendo até passar mal e me sentindo super culpada depois.
Sou um ser humano e ainda estou aprendendo, e só de não fazer mais isso com tanta frequência, já é uma vitória pra mim. Só de comer chocolate e sorvete e não sentir culpa depois, já me deixa muito feliz. Dia após dia. E até eu estar 100%, haja yoga, meditação, e muita, mas muita conversa! Então me contem, vocês também sofrem disso? Se sim, me contem mais, e compartilhem comigo as suas dores e dicas para melhorarmos juntas?

O artigo Precisamos Falar Sobre: Comida foi publicado pelo Steal The Look.

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