Os maiores influenciadores de moda e lifestyle do Brasil

Paulo

“Meu nome é Paulo Nimer Pjota, sou artista visual e trabalho com duas galerias, uma que chama Mendes Wood DM aqui no Brasil e outra chamada Maureen Paley em Londres. Meu trabalho é uma mistura de pintura com fotografia, com alguma coisa de vídeo – trabalho com várias mídias, mas a principal é pintura.”

Quando você começou a gostar de arte e viu que isso era o que queria fazer da sua vida?

Eu comecei cedo, morava em São José do Rio Preto no interior de São Paulo e com uns 13 anos comecei a pintar. Fazer isso para mim era mais importante de que qualquer outra coisa que meus amigos faziam, eu não era o tipo de criança que gostava de jogar video game ou futebol, não era a minha pegada.

A partir disso comecei a me envolver com várias formas de expressões artísticas, eu pintava mas também era bem ligado ao Hip-Hop. Em Rio Preto tem um galera bem próxima a essa cultura por causa do break, como por exemplo, a equipe Supersonic Bboys, que foram uns dos primeiros a competir fora do país; uma outra referência é o Pelézinho, ele também é de Rio Preto. Com uns 14 anos comecei a frequentar a casa do Hip-Hop e construí uma amizade com todas essas pessoas que de certa forma me fizeram encontrar o que eu gostava de fazer.

Comecei pintando na rua, mas percebi que não era isso que eu queria, então parei com uns 16 anos. Depois, me mudei a São Paulo para fazer faculdade de Artes Visuais, já sabendo o que eu queria. Fiz minha primeira exposição com 17 anos no Memorial da América Latina e com 18, fiz minha primeira individual. A partir disso, as coisas foram caminhando bem devagar e aos poucos fui me estabelecendo, tendo uma segurança maior.

No interior tem muito disso, o cara quer ser artista, e as pessoas se perguntam da onde ele vai tirar dinheiro para sobreviver, o que vai acontecer. A minha família não tem ligação nenhuma com o mundo da arte; meu avô por parte de pai entalhava coisas em madeira, essa nem era a profissão dele, então não tem nenhum artísta plástico de carreira. Meu pai vende carro e minha mãe era advogada, e mesmo assim eles sempre me apoiaram muito, me deram liberdade pra fazer o que eu queria, o que eu amo.

Eu nunca tinha saído do Brasil, e a primeira vez que eu saí foi a convite de uma exposição. Meio que tudo que eu consegui, todas as viagem que eu fiz, minha estabilidade, tudo veio por meio do meu trabalho. Além da gratificação de poder ter tudo isso fazendo o que eu amo, tem o outro lado, de ter me aberto muitas possibilidades e a cabeça, em relação a visão de mundo e a questões culturais. Tudo o que eu faço é relacionado – minha vida e meu trabalho são muito próximos.

Tenho uma relação muito forte com moda também, creio que não exista uma pessoa no mundo que goste de Rap, Hip-Hop e não se importe com moda. Comecei a trabalhar com algumas marcas quando era bem jovem, além de fazer as minhas próprias camisetas, com estampas, descosturar e costurar de novo.

Nessas suas viagens, são sempre para exposições ou também para colaborações com outras marcas?

Todas as viagens que eu fiz foram para fazer uma exposição, uma residência artística, ou uma reunião com o cliente, mas tudo ligado ao meu trabalho de artista. Com marcas eu não fiz tantas coisas, porque acho que têm que ser coisas específicas que façam muito sentido, já que a gente vive nesse mundo da superexposição e qualquer coisas que você fizer seu nome vai estar lá, então eu tomo muito cuidado com isso.

A única vez que eu fui viajar e tinha uma marca por trás foi a Volcom. Foi a minha primeira exposição individual fora do Brasil, em San Jose na Califórnia, e minha primeira viagem pra fora do país. Fiquei na casa da marca, onde vão os skatistas, e fiz algumas estampas com eles por lá.

Tem alguma exposição sua que te dê mais orgulho que outras, ou que tenha sido uma conquista maior?

Em questão de carreira, a que eu fiz e me fez perceber que eu tinha realmente atingido o meu objetivo, foi a Bienal de Lyon em 2013. Eu fiz o projeto da fachada do museu na Bienal, foi animal, porque é um lugar gigante, e tinha meu trabalho exposto nessa escala, foi bem marcante. Eu era o artista mais jovem da Bienal, foi uma puta conquista para alguém tão novo. Depois disso comecei a trabalhar muito fora do Brasil, viajar pra vários lugares da Europa e tudo mais. No mesmo ano, fiz uma exposição chamada Imagine Brazil na Noruega, e acho que essas duas me marcaram muito, abriram muitas portas.

Como é o seu processo criativo, de onde você tira inspiração?

O meu processo sempre foi muito de pesquisa de campo, da vivência, da questão empírica – estar no lugar e entender as pequenas coisas. Quando eu comecei a viajar, isso expandiu muito, eu passo 5 meses do ano fora do Brasil, já fui pra China, pro Marrocos, pra África, Europa e para mim é impossível chegar num lugar que tem tanta informação, tantas questões estéticas e simbólicas e não absorver isso para o meu trabalho.

Isso está muito ligado a minha adolescência também, quando eu era mais novo, andava muito pela cidade e meu olhar sempre foi muito atento a essas coisas. Sempre me interessei com questões populares, construções arquitetônicas. É muito natural pra mim estar em um lugar, andando na rua e estar olhando tudo, isso aparece muito no meu trabalho. Com o tempo, com mais maturidade, entendendo mais produção e processo, fui vendo que o que me interessava, eram questões culturais – estéticas e simbólicas. Comecei a pintar fazendo grafite, pichação e quando você faz isso, você condiciona o seu olhar a ficar procurando um lugar para trabalhar, então toda hora você tá olhando e todo mundo que pinta ou pintava na rua tem isso.

Entrando pra faculdade de artes, comecei a misturar questões eruditas com questões populares, questões marginais com questões do museu. Basicamente perambulo por esses dois universos. Dentro do sistema da arte, pintor é meio que o cara de ateliê, que fica em casa o dia inteiro pintado, e pra mim nunca foi isso. Eu passo muitas horas no ateliê produzindo porque a prática necessita disso, mas eu passo mais horas andando e pesquisando. Meu processo é meio que: Produzo por seis meses, faço uma viagem e fico três meses sem produzir só pesquisando, ai volto pro ateliê e fico lá trancado.

Falando mais sobre tênis, quando começou a sua relação com isso? Foi na época do Hip-Hop em Rio Preto?

Como já disse, acho que todo mundo que tem uma relação próxima com o Hip-Hop se interessa por moda e a moda está muito atrelada ao tênis. Na minha época, o tênis que se usava sempre era o tênis de skate, de marcas como a Qix e o Superstar por causa do RUN-DMC. Só que no interior não tinha tanta informação assim e chegava muito pouco produto e era muito caro, por exemplo, o Nike da época era o Nike Shox, e era uma coisa super de boy.

Lembro que tinha um camelô em frente a rodoviária onde eu comprei um Adidas que não lembro o nome, e era um dos tênis de bboy da época. Então eu basicamente comecei a me interessar por isso por causa do Hip-Hop, depois que eu fui pesquisando mais e entendendo um pouco melhor, descobri o Dr. Dre, que é o Air Force estampado, o cara só usava isso. Quando fui fazer aquela exposição na Califórnia, fiquei num bairro chamado Tenderloin, que é o bairro mais no centro da cidade e é meio uma cracolândia. Me hospedei num albergue e um dia sai na rua e vi uns 15 malucos todos vestidos que nem o Dr. Dre – moletom preto, calça jeans e Air Force. Nesses três meses que passei lá eu fui entendendo mais na prática o que era essa moda West Coast.

Eu não me considero um sneakerhead, o meu negócio é mais com a história do que qualquer outra coisa. Não que o sneakerhead não tenha uma ligação com a história, mas quando vou buscar um produto eu tenho esse afeto histórico, como um óculos da Versace por causa do BIG; eu não compraria essa peça se ele não tivesse usado. Até a Supreme, que deu essa hypada, eu tenho esse boné que ganhei já faz uns oito anos e quando penso nessa marca, penso no filme Kids, um filme super icônico, que marcou uma época.

Por que esse Nike Primo Court foi o escolhido para a entrevista?

Escolhi ele porque é um tênis que veste bem com o tipo de roupa que eu gosto. Tem uma coisa na moda streetwear que não é uma questão de marca para mim, é mais uma questão de conceito, comportamento, como você se relaciona e não é simplesmente você pegar um tênis e colocar esse tênis com qualquer roupa – esse tênis cai muito bem com esse tipo de calça, além de ter uma relação com a estética do skate.

Além disso, eu comprei ele quando fui para Londres, numa viagem muito marcante na minha vida, e esse tênis é um objeto que tenho desse momento como memória. Já que foi na minha primeira exposição na cidade, por meio da galeria que me representa agora, então tenho uma relação afetiva com essa época. Tem o fato dele ser muito parecido com o Blazer também (risos), um dos primeiros tênis da Nike, e teve uma passagem do basquete para o skate, que esteticamente são dois esportes que me interessam muito.

No final é um tênis simples, slim, e que você pode colocar ele tanto para ir num show de Rap quanto para ir num jantar, ele encaixa bem em tudo. Não é um tênis da moda, é um tênis histórico. Não vou ficar pagando três mil reais num tênis, acho foda mas para mim não é isso, não é essa valor que importa num tênis. O que importa mais é o tênis em si, o objeto.

Você lembra de alguma história, ou momento que você passou com ele?

Tem vários mano (risos). Além da abertura da minha exposição em Londres, ele está todo manchado assim porque eu fui num show de Rap no viaduto Madureira no Rio e teve um bate cabeça gigante, que pegou o público inteiro e a galera começou a fazer chuva com os baldes de bebida, no final o lugar virou só lama.

Eu cuido muito dos meus tênis, mas nunca compro nada para não usar.


Nike Primo Court
Comprado: 2016
Dono: @paulopjota
📸 @peroladutra

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