Conta pra gente como foi o processo de criação do Efêmmera.
O grafite é um universo muito masculino, entendemos que a maioria das pessoas que estão nesse meio são homens, mas entendemos também o porque disso. Existe a limitação da mulher, que engravida, que se casa ou que tem problema com aceitação da família, enfim, é muito diferente a aceitação do menino fazer grafite em comparação com uma menina. Eu sei bem isso porque na adolescência tive que passar por essa fase.
Nós percebemos que faltava um pouco essa sensação de pertencimento das meninas por não ter uma rede de apoio. Geralmente a menina tinha o primeiro contato com grafite pelo namorado, isso é muito natural, dela chegar no grafite através do homem. Então sentimos essa necessidade de ter uma união maior entre as meninas – a gente acabava ficando muito distantes umas das outras – e o Efêmmera veio com esse intuito. Não fazemos só o apoio, a gente pensa em deixar a coisa o mais profissional possível, a idéia é fazer um casting, viabilizar trabalho com grana mesmo, queremos mais a parte profissional do que somente o suporte.
Notamos também que as curadorias são sempre feitas por homens, então a gente acaba sendo muito segregada, as vezes eles colocam duas meninas só pra ter a cota feminina, sabe? Por ser um ambiente dominado por homens, naturalmente é um meio muito machista, rola sempre do cara pintar um local e aí chama a namorada pra pintar junto – não é do tipo “a mina tem um trabalho legal, vamos convidar”. Também entendemos que as vezes para a mulher desenvolver a técnica é mais complicado por ter outras tarefas – normalmente ela tem uma jornada dupla, ou até tripla. Já o cara consegue se dedicar 100% ao grafite, assim automaticamente ele desenvolve a técnica mais rápido. Vimos várias dessas demandas e o Efêmmera vem pra melhorar essa colocação da mulher nesse meio, o que conseguirmos fazer para melhorar, nós vamos tentar..
Quando você começou a grafitar?
Eu comecei na escola. Eu sempre gostei de desenhar e ficar rabiscando a minha casa – até que tem uma casa que a gente morou quando eu era criança, que chamávamos de “a casa riscada” porque as paredes eram completamente detonadas de desenhos nossos, meu e da minha irmã. Nós moramos na mesma casa desde meus 7 anos, então a rua inteira tinha postes com o meu nome pintado. Aos 18 anos, eu tava na escola ainda, conheci um pessoal que fazia umas tags, inclusive eles pintam e trabalham com grafite até hoje, são meus amigos. Na época, me convidaram pra pintar com eles, foi assim que comecei, isso foi em 2002 e tamo aí até hoje.
O curioso também é que depois de muitos anos, eu fui relacionar essa minha paixão com o grafite com o meu tio. Ele é arquiteto e sempre desenhou muito, fazia maquetes e ele era também a pessoa que fazia os desenhos da Copa do Mundo na rua! Então no período da Copa o pessoal chamava meu tio, o Edson, para pintar e eu ajudava ele. Só depois de anos eu fui relacionar – eu curtia muito, via o meu tio fazer, via ele mexendo com tinta, eu sempre acompanhava ele e via ele desenhando…e depois de anos eu fui fazer grafite, então tudo vai se conectando.
Você acha que a cultura dos sneakers e street influenciam sua arte?
Eu acho que como são culturas muito ligadas, eu relaciono direto com grafite. Normalmente quem gosta de grafite já tem uma tendência a curtir sneakers e etc. Eu gosto muito de moda, sempre fui muito ligada nisso, principalmente streetwear porque gosto de Rap. Música pra mim também influencia diretamente no meu repertório visual, mas talvez não no meu trabalho diretamente. Mas sim, eu diria que esses ramos influencia muito meu trabalho, talvez o tema não seja esse, mas sem dúvida tem influências.
O legal é que consegui uma bolsa na faculdade por conta do grafite – eu fazia o