Os maiores influenciadores de moda e lifestyle do Brasil

Amanda

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Conta pra gente como foi o processo de criação do Efêmmera.

O grafite é um universo muito masculino, entendemos que a maioria das pessoas que estão nesse meio são homens, mas entendemos também o porque disso. Existe a limitação da mulher, que engravida, que se casa ou que tem problema com aceitação da família, enfim, é muito diferente a aceitação do menino fazer grafite em comparação com uma menina. Eu sei bem isso porque na adolescência tive que passar por essa fase.

Nós percebemos que faltava um pouco essa sensação de pertencimento das meninas por não ter uma rede de apoio. Geralmente a menina tinha o primeiro contato com grafite pelo namorado, isso é muito natural, dela chegar no grafite através do homem. Então sentimos essa necessidade de ter uma união maior entre as meninas – a gente acabava ficando muito distantes umas das outras – e o Efêmmera veio com esse intuito. Não fazemos só o apoio, a gente pensa em deixar a coisa o mais profissional possível, a idéia é fazer um casting, viabilizar trabalho com grana mesmo, queremos mais a parte profissional do que somente o suporte.

Notamos também que as curadorias são sempre feitas por homens, então a gente acaba sendo muito segregada, as vezes eles colocam duas meninas só pra ter a cota feminina, sabe? Por ser um ambiente dominado por homens, naturalmente é um meio muito machista, rola sempre do cara pintar um local e aí chama a namorada pra pintar junto – não é do tipo “a mina tem um trabalho legal, vamos convidar”. Também entendemos que as vezes para a mulher desenvolver a técnica é mais complicado por ter outras tarefas – normalmente ela tem uma jornada dupla, ou até tripla. Já o cara consegue se dedicar 100% ao grafite, assim automaticamente ele desenvolve a técnica mais rápido. Vimos várias dessas demandas e o Efêmmera vem pra melhorar essa colocação da mulher nesse meio, o que conseguirmos fazer para melhorar, nós vamos tentar..

Quando você começou a grafitar?

Eu comecei na escola. Eu sempre gostei de desenhar e ficar rabiscando a minha casa – até que tem uma casa que a gente morou quando eu era criança, que chamávamos de “a casa riscada” porque as paredes eram completamente detonadas de desenhos nossos, meu e da minha irmã. Nós moramos na mesma casa desde meus 7 anos, então a rua inteira tinha postes com o meu nome pintado. Aos 18 anos, eu tava na escola ainda, conheci um pessoal que fazia umas tags, inclusive eles pintam e trabalham com grafite até hoje, são meus amigos. Na época, me convidaram pra pintar com eles, foi assim que comecei, isso foi em 2002 e tamo aí até hoje.

O curioso também é que depois de muitos anos, eu fui relacionar essa minha paixão com o grafite com o meu tio. Ele é arquiteto e sempre desenhou muito, fazia maquetes e ele era também a pessoa que fazia os desenhos da Copa do Mundo na rua! Então no período da Copa o pessoal chamava meu tio, o Edson, para pintar e eu ajudava ele. Só depois de anos eu fui relacionar – eu curtia muito, via o meu tio fazer, via ele mexendo com tinta, eu sempre acompanhava ele e via ele desenhando…e depois de anos eu fui fazer grafite, então tudo vai se conectando.

Você se considera Sneakerhead?

Se a definição for só pela questão do gostar e você ser meio fissurado nisso, talvez sim. Mas acho que de um tempo pra cá, tá tendo a questão do “Hype”, de você não conseguir comprar e etc. Eu gosto de tênis porque eu gosto de tênis, e não porque ele vale muito dinheiro. Tem vários tênis “Hypão” que eu não curto e não compraria se tivesse grana…tipo o Yeezy eu acho péssimo, acho um horror, o shape é feio e eu sou muito chata pra shape.

Toda a cultura que cresce muito sempre dá uma desandada e depois fica meio chata. Na época que comecei a curtir sneaker, era mais a questão de gostar, do que ter, porque a gente não podia ter. Então se sneakerhead é isso, de você ser apaixonado pelo negócio, pesquisar sobre, então sim. Mas se for o fato de ter vários tênis raros, ou deixar de comprar isso pra comprar um tênis, então não, eu sou uma pessoa completamente controlada e consciente do que o tênis vale e não vale. Eu acho absurdo pagar R$2.000 no tênis, sendo que você coloca ele no pé pra andar – e com esse valor dá pra comprar um Fusca.

Porque você escolheu esse Jordan XII Vachetta para o ensaio de hoje?

Eu escolhi esse tênis primeiro porque eu curto muito o Jordan, o basquete que fez eu começar a gostar mesmo de tênis, então tinha tudo a ver escolher um tênis de basquete. E também eu achei muito especial esse tênis ser de uma linha da Jordan voltada para as mulheres – é uma simbologia muito bacana. Depois de tantos anos da marca, de tanta mina gostar de Jordan, só agora eles fizeram uma linha voltada para as mulheres. Então achei simbolicamente importante isso, até porque tenho um trabalho que é pensando na mulher e no espaço dela nessa cultura. Escolhi por causa disso, além dele ser um tênis lindo e maravilhoso. Vou limpar a sola quando chegar em casa com lenços umedecidos (risos).

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