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O segundo cordão

Você se prepara durante nove meses, planeja o parto, os primeiros dias / meses e o primeiro ano. Mas é com o passar do tempo que vemos que algumas coisas são muito diferentes na prática e na teoria. E uma dessas é a quantidade de cordões umbilicais que precisamos cortar! Não é só aquele momento depois ao parto: tem o da primeira vez que você deixa seu bebê em casa sem a tua companhia, o de quando começa a ir pro maternal / jardim de infância, e por ai vai. Cada mãe tem os seus. O meu segundo cordão foi com a amamentação.

Desde o começo da gravidez eu já estava decidida que queria amamentar até os dois anos de idade. Não me interessava se as pessoas ao meu redor gostavam ou não desse fato, essa era uma decisão minha e ninguém podia interferir. Minha sogra me dizia que o leite materno fica fraco depois de um tempo (crença mais do que ultrapassada), outros me diziam que minha filha estava muito grande, que ela podia me morder (o que nunca aconteceu) e etc. Entrava tudo por um ouvido e saía por outro, já que eu tinha me informado muito e sabia dos benefícios da amamentação. Aliás, sabia que a OMS, Organização Mundial de Saúde recomenda o aleitamento exclusivo até os seis meses de vida e o complementado até dois anos ou mais? No meu caso, a amamentação foi um dos momentos mais lindos da minha vida depois de ter me tornado mãe. O problema é que a minha filha passou a dormir muito mal, e a acordar várias vezes (em média 12 por noite) e só se adormentava no seio. Era questão de segundos, mas cada vez eu precisava levantar e ir para o seu quarto – Martina passou a dormir em seu quarto desde muito pequeninha. Chegou a um ponto em que eu não aguentava mais. Virei um zumbi, sem tempo para um cochilo no meio da tarde para recuperar a noite em claro. Foi assim que em outubro procurei uma psicoterapeuta especializada em sono infantil. Ela me propôs quatro encontros, um a cada duas semanas, só com meu marido e eu, para entendermos se era um problema fisiológico, em primeiro lugar, e se não o fosse, o que poderíamos mudar para que Martina tivesse qualidade de sono – o que influi também no desenvolvimento da criança. Logo com as primeiras dicas vimos a mudança em seu comportamento: os pratos infantis e copos de plástico foram embora junto com o cadeirão. Ela passou a se sentar na cadeira normal e a usar os mesmos pratos e copos como o da família – de cara ela se interessou muito mais em ficar sentada à mesa. Foram muitos os fatores que ajudaram a, praticamente, mudar as nossas vidas e oferecer uma boa noite de sono à ela: da televisão que não se liga depois das 17h à criar uma rotina que se repete todos os dias, além das luzes baixas. Mas foi no terceiro encontro com a psicóloga que decidimos que era a hora de dar um basta na amamentação. Faltava ainda dois meses para Martina completar dois anos, e eu já tinha ultrapassado o meu limite físico. Me sentia insegura em dar esse passo, mas com o acompanhamento, foi um “cordão” que consegui cortar sem torna-lo um momento de dificuldade. Expliquei à Martina que a mamãe estava muito cansada, e disse que eu tinha me machucado. Coloquei um band-aid, e ela respeitou, me deu um beijo e disse que a mãe fez “ai”. Nos próximos 12 dias ela repetiu diariamente o ritual: ela pedia para mamar e imediatamente ela mesma se dava a resposta, dizendo que a mãe fez ai, e me dando um beijo. ❤
Conseguimos passar dessa fase de uma forma leve. Confesso que saber que aquela era a última vez que eu estava amamentando a minha filha não foi fácil e só de escrever me dá um nó na garganta e me mareja os olhos. A amamentação é um laço muito forte entre mãe e filho, e o que a psicóloga que nos acompanhou insistiu em me dizer é que a mãe deve pensar que a amamentação é o alimento para o filho, não é o instrumento para fazê-lo parar de chorar, para fazer carinho ou para fazer com que se adormente. A função da natureza é nutrir. Existem tantas outras formas da mãe fazer carinho no filho e esse é um ponto que se deve repetir inúmeras vezes à criança: dizendo que a mãe está sempre aqui, e que ele pode ganhar carinho sempre que quiser. Aqui, nós críamos um “abraço mágico” e digo que se acontece alguma coisa, é só ela correr pro abraço mágico que tudo se resolve. Um ponto essencial quando se decide que chegou a hora do desmame é não voltar atrás na decisão. O mais importante é que você esteja pronta. Muitas mães optam pelo desmame natural, que ocorre geralmente entre os dois e quatro anos da criança, quando ela passa a perder o interesse naturalmente.
O fim da amamentação, além da parte emocional, que pra mim foi muito doída (apesar de querer mais do que tudo interrompe-la) veio acompanhada também da dor física. Me foi aconselhado a evitar o tira-leite para não continuar a estimular as glândulas mamárias (e assim prolongar a produção de leite). É preciso massagear os seios no banho quente, para ajudar a eliminar o leite e evitar um quadro de mastite. Comigo, a massagem não foi o bastante, e precisei usar o tira-leite a cada dois ou três dias, e depois de 15 dias a produção de leite acabou.
É difícil para nós mães vermos que os nossos bebês crescem tão rápido, mas as lembranças ficam para sempre dentro de nós e pode apostar: muitos outros cordões aparecerão para você cortar.

Foto: Adriane Hagedorn.

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