Savone
Felipe, qual a sua relação com tênis no geral?
Nunca fui muito ligado em comprar roupa ou tênis. Até que com meus 15 ou 16 anos, lembro do meu primeiro Adidas comprado conscientemente, já que eu queria um tênis da marca. Uma prima minha tinha um tênis que ela não gostava muito e eu achei incrível porque era um tênis preto com três listras. Foi na mesma época que eu estava começando a andar de skate, era um Gazelle básico e ele tinha essa característica de ser neutro, eu adorei isso. Adotei o tênis pra mim, usei por muito tempo e ele foi um dos meus primeiros incentivos para eu gostar de sneakers. Até hoje não me intitulo como uma pessoa aficionada por tênis, mas com esse meu contato com a Adidas eu comecei a gostar muito da marca, me interessar e viver a história dela.
O tênis pra mim sempre foi mais um elemento para compor a minha identidade. Como me formei em publicidade, trabalhei com marketing de marcas a vida toda, fiz pós-graduação em Ciência do Consumo – gosto de saber o porque as pessoas compram, porque elas se interessam por alguma coisa, como elas consomem – e o tênis, assim como outros artigos de vestuário, ajudam a compor uma identidade, ajudam a deixar uma marca no mundo. Costumo dizer que até quando você diz que não se importa com marca e que não quer comprar nada extravagante, só preto e branco, você tá deixando uma assinatura no mundo. E o tênis é mais um complemento dessa identidade que você monta.
As pessoas costumam se expressar de forma errada, por exemplo, quando a galera compra um certo tipo de modelo de tênis o pessoal vem falar que é hype. Cara, a pessoa quer se enquadrar dentro daquele estilo, ela quer fazer parte daquele momento e mesmo que seja hype, o produto tem toda uma história por trás. Isso é o que eu mais gosto em produto e no consumo em geral, que são os significados, o que aquilo transmite de alguma forma. Um tênis branco sem nada pode ter muito mais significado do que um tênis cheio de tecnologia e estrutura.
E em relação a esse negócio da Supreme, acontece com várias outras marcas. Tem momentos e momentos que pessoas começam a usar um produto, isso faz com que outras pessoas queiram participar desse universo, desse momento, desse comportamento. Acho legal e válido da Supreme que eles não criaram a marca com esse intuito, é uma marca true e que obviamente chega nesse momento querendo aproveitar uma oportunidade de mercado, pra continuar alimentando essa história. No final do dia ela é uma marca, é uma empresa que tem funcionários e que tem que gerar dividendos para os acionistas. Mas é uma marca true com muito significado, não é atoa que o Mark Gonzales tá lá um bilhão de anos, o skatista mais true que existe.